maio

23

2023

Ler uma história em quadrinhos é uma experiência pessoal e solitária para os fãs, mas construir a HQ que está em suas mãos é um trabalho que requer uma grande equipe de pessoas — editores, roteiristas, desenhistas, coloristas, letristas, entre outros. Nada disso existiria sem o trabalho duro e a criatividade desses profissionais, mas, fundamentalmente, é o leitor que dá vida a essa experiência.

É o leitor que determina como soa o diálogo criado pelo letrista e o roteirista e como tudo é mostrado. É o leitor que dá vida as páginas na sua imaginação e determina o quanto de tempo que essa experiência perdura após examinar cada um dos painéis. O leitor é quem reflete sobre o que lê e que deixa sua mente fervilhar de ideias do que poderá acontecer no próximo volume. Adicione um incrível elenco de personagens impactantes a essa experiência de imersão, e não resta mais dúvidas do motivo pelo qual pessoas falam de forma tão admirável sobre as HQs e personagens que tanto amam.

As histórias em quadrinhos se comunicam com seus leitores de uma maneira tão íntima, dando a eles o escapismo necessário das pressões do cotidiano e os presenteia com a oportunidade de mergulhar em um mundo diferente cheio de animação, inspiração, terror, romance e muitas outras emoções. Em outras palavras, é algo muito além de heróis que usam capas desferindo socos em seus arqui-inimigos — esse meio pode retratar qualquer gênero! Por causa disso, é compreensível que as pessoas tenham uma conexão tão forte com o meio e seus personagens aparentemente imortais. No entanto, se esse tipo de mídia oferece tanta alegria aos seus leitores, por que as conversas entre fãs e criadores é tão cheia de destilação de ódio e raiva? Por que tem tanta animosidade entre as pessoas que amam quadrinhos quando essa experiência deveria criar um laço entre os admiradores dessa arte?

Primeiro de tudo, devemos estabelecer uma máxima: Existe uma grande diferença entre ser apaixonado por uma obra e ser mesquinho. Não há nada de errado em discordar da direção criativa adotada pelos autores em uma obra de ficção. Fazer críticas construtivas, especialmente quando o assunto ressoa com as experiências vividas pelo leitor ou com dilemas existentes no mundo, é saudável e totalmente aceitável. Mas vocês acham que a maior parte das conversas sobre quadrinhos é feita de maneira harmoniosa, ou que só existe ódio nelas? Para muitos leitores, o segundo cenário é o mais comum.

Grande parte das histórias do mundo dos quadrinhos giram em torno de personagens cujo propósito é inspirar os leitores. Superman pode ser um alienígena, mas ele supostamente representaria a habilidade humana de ajudar uns aos outros, mesmo que tenha alguma decisão complicada a se tomar. O Homem-Aranha enfrenta vários obstáculos intransponíveis e experiências de quase-morte sem sequer desistir de seus objetivos. Há muitos fãs do aracnídeo e do Homem de Aço, mas as discordâncias entre eles são mais inspiradas em vilões como o Duende Verde e Lex Luthor do que nos seus protagonistas. Personagens que foram criados para dar esperança e alegria para as pessoas estão sendo apoiados por gente que se utiliza de uma linguagem repleta de ofensas e preconceitos, até mesmo de ameaças. Se o Homem-Aranha e o Superman soubessem que seus fãs os defendiam de tal forma, vocês acham que eles os apoiariam ou os encorajariam a mudar essa forma de se expressarem? Se a reação à discordância, especialmente a algo muito subjetivo, é o ódio, então existe algum ruído de comunicação entre os fãs e os heróis mais populares da indústria.

Entendam, meu objetivo aqui não é fazer pregação. Só considerem isto como um pedido humilde para se lembrarem de que todos somos seres humanos, dando o melhor de nós para ver mais das obras que nós amamos, e nos lembrarmos de que ler quadrinhos pode ser uma experiência mágica e cheia de significado para os leitores. Se conseguirmos aplicar isso durante as nossas conversas, principalmente com aqueles que podem discordar da nossa visão de mundo, poderemos transformar o mundo das HQs em um lugar mais positivo e acolhedor. Não importa se você ama ou odeia os trabalhos atuais dos seus criadores e personagens favoritos, os quadrinhos devem receber mais gente de braços abertos — especialmente os jovens leitores — e atrai-los para um astronômico acervo de grandes histórias. São décadas e décadas de aventuras que nos impressionam com sua criatividade, e elas conseguem gerar conversas agradáveis, divertidas e acolhedoras entre seus fãs, mesmo que haja certas diferenças entre eles. Quadrinhos são para todo mundo, é perfeitamente normal que não gostemos dos mesmos assuntos. Todos nós amamos quadrinhos, e é isso que realmente importa e que deveria nos conectar, não nos dividir.

Referências:

CBR

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